Espirro.
Sabem aquele momento antes de concretizarem um espirro em que utilizam todo o tipo de estratégias para não o deixar escapar? Tipo olhar para a luz do sol e, em momentos de maior de desespero, fitar incansavelmente lâmpadas de halogéneo a ver se a coisa se dá? (Apesar de isto de encarar o sol de frente ter todo o ar de ser um mito urbano e, diria até, um risco para as vistas mais frágeis). Um orgasmo pode assemelhar-se a isto. Há a antecipação de um momento de prazer – apesar de a expressão facial corresponder mais exatamente à previsão de uma calamidade – e a busca de um subterfúgio que leve aquilo por diante, que normalmente é só continuar a fazer aquele movimento que estava a correr bem, acelerando ou desacelerando à vontade do freguês. Parece fácil, mas às vezes escapa, como os espirros aliás, e é uma maçada. É que em vez do clímax sexual ou do alívio hedónico provocado pela expulsão de muco nasal em micropartículas aéreas, só permanece uma sensação de estranheza e incompletude, como se algo não estivesse como deve ser.
No fundo é tudo uma questão de concentração. Da mesma forma como arreganhamos a face e franzimos, com especial veemência, ao ponto de fecharmos os olhos, as narinas de modo a propulsar um belo espirro, também um orgasmo, quando está a vir (a vir), tem que ser agarrado. Não podemos deixá-lo escapulir-se por entre os dedos. Entre os dedos em sentido metafórico & literal. É necessário agarrá-los (aos espirros e aos orgasmos) com toda a nossa atenção. E em que nos focamos? Na genitália. Só. Todas as sensações espalhadas pelo resto do corpo são uma adição, frequentemente prazerosa e complementar, mas que não pode ser distrativa. Os pensamentos – sobre o que fazer para jantar, o relatório do dia seguinte e as dezenas de e-mails por responder – também não podem interferir. Há que escorraçá-los. Só há espaço para um pensamento/sentimento que pode apenas proliferar na vagina. No clitóris na verdade, mas isso é outra conversa. Pergunto-me se as pessoas com défice de atenção conseguem ter orgasmos.
Talvez esteja a levar esta comparação entre um espirro e um orgasmo demasiado longe. Afinal, o último está a associado a uma motivação humana importante para qual os humanos planificam comportamentos que culminem na sua realização. Já com os espirros não é bem assim. É fixe espirrar mas não imagino aí o pessoal a sair à noite em busca de one night sneezes. Claro que a avaliar pela roupa diminuta com que se sai é bem possível que seja isso mesmo com que nos deparemos (eu sou dessas pessoas frequentemente geladas, a quem faz sempre falta um casaquinho). Até diria mais com saídas à noite até se conseguem multiespirros vejam lá. Não são, no entanto, nem de longe nem de perto, tão divertidos como orgasmos múltiplos.
Será possível espirrar enquanto se tem um orgasmo?? Hum.
E chega de disparates por hoje.
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