Ó diacho, o que vou eu escrever sobre o dia dos namorados, esse feriado esquisito? Mas, quer dizer, se os ateus comemoram o Natal apesar de não acreditarem em Deus, os comunistas também apesar de não crerem no consumo, e até mesmo mães feministas abraçam a causa com estufados, gratinados e sobremesas – se todos estes rabugentos sobrevivem ao Natal -, também eu me aguentarei à bronca no dia dos namorados. (Vou só estrebuchar um bocadinho).
O que há a dizer acerca dessa conceção romântica cuja data estipulada é perfeitamente arbitrária? É que no Brasil este feriado é comemorado a 12 de Junho. O que me lembra uma história engraçada, de uns amigos que casaram nesse dia,-uma portuguesa e um brasileiro que conseguiram a proeza requintada de unir os laços do matrimónio nas noivas de Santo António e no São Valentim brasileiro – por mero acaso (dizem eles). É tão inacreditavelmente piroso que dá a volta. Como um tipo que conheço, filho de gente de esquerda à séria ali do Príncipe Real, que por nascer dia 25 de Dezembro ficou Salvador, numa espécie de anedota anticristo.
Mas era para falar do dia dos namorados, não era? Lembrar-me-ei para sempre do correio sentimental cuja distribuição era da responsabilidade da AE da secundária. Aquilo era tão divertido para mim que num ano até me voluntariei para pôr o processo em marcha – e olhem que eu sempre fui mais do género voluntária à força, daquelas que acabava por pagar do meu próprio bolso os jornais da escola que me incumbiam de vender, só para não passar pela infelicidade de impingi-los aos vizinhos. Mas adorava aquele marco do correio. Lembro-me que tinha eu aí 16 anos e fiquei muito doente no dia 14 de Fevereiro. Perdi a distribuição, mas a Rita leu-me uma carta muito bonita por telefone. O seu autor pintava-me, poeticamente, a correr nua pela praia (e isto foi antes dos Toranja). Já o meu cenário mental foi bastante menos idílico, só de pensar no espetáculo de carnes a abanar.
Na verdade a parte mais divertida do dia dos namorados sempre foi o “jantar de encalhados”. Claro que também não é uma má desculpa para passar tempo de qualidade com a outra metade. Já impor-lhe o caráter de comemoração obrigatória e, sobretudo, inundar as redes sociais de clichês floridos, é criminoso (e meio caminho andado para eu optar por “ocultar do feed”, o que não é muito simpático mas um mal necessário). Também agradecia que cabeleireiros chiques parassem de me tentar oferecer descontos de 10% em packs de manicure, pedicure, depilação, madeixas, etc., etc. É que o dia dos namorados não implica um extreme makeover (sobretudo se o desconto for de 10%). Vou só ali ao Lux, ver os PAUS.
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