Os casais deviam concentrar-se em não saber tudo sobre o outro, em não procurar fórmulas para o orgasmo ou aprender técnicas para proporcionar prazer. O aprimoramento da técnica tem o seu lugar, claro, e não é um esforço vão, contudo, ao otimizarmos qualquer coisa estamos necessariamente a aborrecer-nos. É como quando nos deslocamos para um local específico da plataforma do metro porque sabemos que nos encaminhará para a saída mais próxima na estação de destino. Se fizermos a travessia todos os dias este comportamento torna-se automático e deixamos de reparar nele. É a mesma coisa com os broches. O que interessa a eficácia se não fruirmos o processo? Às vezes até pode dar jeito. Despachamos a coisa e tal. Mas se quisermos mesmo que a ação reverta em algo significativo não há técnica que nos valha. A não ser que queiramos reproduzir o mesmo procedimento over and over and over. Boring. (Se notarem alguma sobreutilização de vocábulos estrangeiros tem que ver com o meu querido callcenter americano).
Não importa saber pôr a língua ali ou o dedo acolá. Talvez importe mais não chegar lá de todo, ou acertar ao lado, mantendo a hipótese de transgressão.
Ninguém se vai lembrar de um orgasmo. A não ser o nosso cérebro, claro, que fica viciado em dopamina. Na altura de fantasiar o que importa é o percurso até lá chegar (se se chegar). Não é a recordação de um orgasmo que vai levar à procura de outro.
O clímax é fácil. Requer um momento de concentração e movimentos bem aplicados. Tem muito mais a ver com o próprio do que com o que quer que o outro lhe esteja a fazer. Por isso é que existem orgasmos sem desejo e até sem prazer. Porque a excitação fisiológica pode existir por cima de tudo isto.
Não quero ser mal interpretada. Eu não estou a renegar a importância do orgasmo. (Sinto que tenho sempre que pedir desculpa por dizer estas coisas). Estou a apenas a anexá-lo para segundo plano no que toca à fantasia.
Porque é que os primeiros relacionamentos púberes podem ser tão excitantes? Porque há muito espaço para a fantasia e para a descoberta. Aliás, em situações ortodoxas só há mesmo fantasia. Não há grandes planos nem se sabe bem o que esperar. O mesmo acontece em relações novas. A excitação vem das possibilidades a existir e muito menos da realidade.
Não se iniciam relações a pensar em atingir o instante orgástico. Inicia-se uma relação porque é excitante, porque aquela pessoa nos dá pica, é estimulante, e queremos que nos toque (mas não sabemos bem onde). Em todo o lado, provavelmente.
A técnica e eficácia em proporcionar prazer parecem-me algo imberbes e só dão frutos ao ínicio. Depois é o salve-se quem puder ó meu deus o que é que eu faço para isto continuar interessante. Não há grandes conselhos. Só dois. O primeiro é explorar todos os recantos da pele. A pele é o maior órgão do nosso corpo. Mas esgota-se. A fantasia não – o segundo conselho. Portanto há que puxar bem pelo arquivo erótico do passado e apostar em cenários do futuro.
That’s all folks.
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